Pastor provoca polêmica com ameaças a moradores de rua em Divinópolis (MG)

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Wilson Botelho, pastor de uma comunidade terapêutica, proferindo ameaças graves durante uma sessão da Câmara Municipal de Divinópolis (MG), em setembro deste ano — o caso ganhou nova repercussão após reportagem do programa Fantástico, da TV Globo.

Segundo o vídeo, o pastor diz, referindo-se a uma pessoa em situação de rua:

“Se você atravessar aquela ponte, amanhã às 4h da tarde eu vou fazer o seu sepultamento … é só eu dar a ligada aqui e você tomar dois tiros na cabeça.”

Essa fala foi dita no contexto de uma audiência pública convocada para debater as condições de pessoas em situação de rua na cidade, depois de acusações da prefeitura local de que indivíduos de outras cidades estariam sendo enviados para Divinópolis.

Além de ameaçar diretamente a vítima, o pastor declarou que agiu com “apoio de um coronel da Polícia Militar” e com o auxílio de dez homens, para “expulsar” essas pessoas da cidade.


Reações e consequências

A declaração imediata mais visível de repúdio veio da própria Câmara Municipal, que classificou as falas como “inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática”. Segundo o Legislativo local, incentivar ou elogiar violência contra pessoas vulneráveis é inadmissível, e determinou encaminhar os fatos às autoridades competentes para análise de possíveis responsabilizações.

Entre os vereadores, a postura do pastor foi criticada severamente. Um deles, do partido da oposição, declarou que escutar um líder religioso — responsável por uma instituição de acolhimento — incitando violência contra pessoas vulneráveis é “perverso e criminoso”.

Do ponto de vista institucional de assistência social, a fala reacende o debate sobre o tratamento — ou a omissão — de autoridades e instituições diante da população em situação de rua, e da responsabilidade de quem se propõe a “acolher”.


A versão do pastor e a repercussão midiática

Após a repercussão negativa, o pastor afirmou à reportagem do Fantástico que sua fala foi “infeliz”. Ele negou ter praticado agressão física e garantiu que, segundo ele, nunca maltratou qualquer pessoa em situação de rua.

Mesmo assim, o vídeo com as ameaças continua circulando nas redes — o que reacende a indignação pública e pressiona autoridades locais e de direitos humanos a se manifestarem e investigarem o caso.


Importância do debate e o risco da naturalização da violência

Casos como o deste pastor são sintomáticos de uma problemática mais ampla: a invisibilidade e criminalização social de pessoas em situação de rua. A retórica de “limpeza urbana” ou de “expulsão de indesejados” — quando veiculada por líderes religiosos, políticos ou influentes — contribui para legitimar violência e violações de direitos.

A Constituição Federal e legislações de direitos humanos garantem a dignidade, a proteção e o acesso a políticas públicas dessas pessoas — o que coloca sob questionamento qualquer discurso que incentive violência, exclusão ou ameaça como solução.

Além disso, é papel da sociedade civil e do Estado resistir a discursos de ódio e discriminação, garantindo que vulneráveis sejam tratados com dignidade, respeito e com acesso a assistência social, moradia, saúde e apoio — não com ameaças ou violência.

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