Quando se discutia, ao longo deste ano, a instituição da tributação para as grandes fortunas, veio à tona uma uniforme narrativa: os “super ricos” vão deixar o Brasil e levar seus recursos para o exterior, gerando desemprego no país. Acontece que tal narrativa é uma verdadeira falácia, e qualquer indivíduo que conhece o modelo tributário adotado pelo mundo à fora, sabe que tal fenômeno não ocorreria no Brasil.
Primeiramente, a distribuição dos impostos no Brasil é muito diferente da existente em países como os Estados Unidos, por exemplo: os impostos sobre o consumo, no Brasil, representam 42,5% de toda a arrecadação tributária do país, enquanto que nos EUA representam apenas 16,5% de todo o montante. E qual o reflexo desta discrepância? A diferença básica é que, nos EUA, o Estado arrecada mais tributos quando a população efetivamente enriquece, enquanto que no Brasil, a arrecadação tributária não depende do enriquecimento da população, mas apenas do aumento do consumo pela grande massa.
Por este motivo, quando comparamos as alíquotas mínimas e máximas do imposto de renda no Brasil (isento a 27,5%) e nos EUA (10% a 37%), percebemos nitidamente a constatação apresentada no parágrafo anterior: Quem ganha mais paga mais imposto nos EUA do que no Brasil. Neste sentido, a preocupação do governo americano, sempre será que sua população consiga aumentar sua renda, pois isto se reverterá em um aumento da arrecadação tributária, o que não se verifica no Brasil.
No Brasil, ao contrário dos EUA, o interesse do governo é sempre aquecer o mercado interno, pois com isso, não apenas ele estimula a geração de empregos, como também consegue aumentar a arrecadação tributária, que é fortemente embasada nos impostos sobre o consumo. Por esta razão, o governo brasileiro sempre tende a estimular as instituições financeiras a fornecerem crédito ao consumidor: com o fornecimento de crédito, as classes menos abastadas, conseguem ter acesso aos bens de consumo de maior valor agregado, aumentando assim o consumo destes bens e, consequentemente, o aumento da arrecadação tributária.
Ocorre que tal prática gera uma falsa sensação de riqueza no consumidor brasileiro: tendo fácil acesso ao crédito, o consumidor brasileiro consome mais, porém, este consumo é feito com um dinheiro que não é dele. Desta forma, este modelo estimula, no longo prazo, o aumento da inadimplência no país, de maneira praticamente inevitável, haja vista que o Estado estimula o consumo de bens de consumo, de maneira quase que irresponsável, visando o aumento da arrecadação tributária, porém a população não possui renda o suficiente para ostentar o padrão de vida que ela efetivamente ostenta, criando uma situação insustentável, fazendo com que a classe trabalhadora se torne refém das instituições bancárias, em virtude das dívidas contraídas.
E quem está por detrás das instituições bancárias? Os “super ricos”. Logo, além de pagarem uma tributação bastante branda sobre a renda e cheia de “brechas legais” para pagar menos impostos, esta “casta” ainda ganha verdadeiras fortunas com a cobrança de juros da classe trabalhadora, em virtude do consumo desenfreado de bens e serviços, estimulados pelo Estado, para alavancar a arrecadação tributária.
E qual o resultado final de tudo isso? Simples, além do endividamento excessivo de nossa população, o poder de compra da população brasileira é simplesmente ridículo: de acordo com os dados do DIEESE, em 2025, o salário mínimo deveria ser de R$ 7.300,00 por mês (cinco vezes acima do valor do atual salário mínimo). Atualmente, de acordo com o IBGE (2025), apenas 8,22% dos brasileiros ganham mais de cinco salários mínimos por mês. Em outras palavras, mais de 90% dos brasileiros não vivem de maneira digna.
Logo, acreditar que os “super ricos” deixariam o Brasil, caso tivéssemos mudanças em nosso modelo tributário, com a finalidade de tributar mais adequadamente a renda, é uma verdadeira falácia sem qualquer embasamento lógico ou racional, uma vez que eles ostentam, no Brasil, um padrão de vida que dificilmente conseguiriam ostentar em qualquer outro países do mundo, com um caminhão de privilégios e benefícios fiscais, que são inacessíveis para a classe média, que indubitavelmente, hoje é a maior prejudicada pelo modelo tributário vigente.







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