Nicolás cairá de Maduro?

Um verdadeiro cerco está se fechando contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, deixando claro que o regime bolivariano está com os dias contados, mas não está claro o porquê de toda esta movimentação, neste exato momento da geopolítica global.

Primeiramente, precisamos entender as razões que levaram Hugo Chávez, antecessor de Nicolás Maduro, ao poder na Venezuela. A primeira destas razões foi o aumento súbito da corrupção na Venezuela, durante as décadas de 1980 e 1990, gerando forte insatisfação popular. A segunda razão foi a falência do modelo econômico “petrodólar”, que fez com que os venezuelanos vivessem de maneira bastante abastada durante as décadas de 1950 a 1970, porém, com a desvalorização do petróleo no mercado internacional, este sistema começou a se tornar insustentável. A terceira razão, por sua vez, diz respeito à grande desigualdade social interna, que sempre existiu na Venezuela, assim como nos seus pares latino-americanos. Desta forma, no final da década de 1990, Hugo Chávez encontra um terreno perfeito para o seu “plano revolucionário”, pois a sociedade venezuelana ansiava por mudanças políticas e sociais, que de fato viriam a ocorrer, mas não da maneira esperada.

Em um primeiro momento, o regime de Chávez parecia próspero e até detinha significativa popularidade, principalmente entre as camadas mais populares, mas com o tempo, o regime foi aparelhando diversas instituições e conseguindo certa “onipresença repressiva”, de tal modo que, atualmente, de acordo com o Índice de Percepção da Corrupção (IPC), mensurado pela Transparência Internacional (2024), a Venezuela hoje encontra-se na posição 178º, dentre os 180 países avaliados, como sendo um dos menos transparentes do mundo. Resumidamente, aos olhos da comunidade internacional, é inequívoco que a Venezuela hoje é uma ditadura.

Ocorre que esta percepção de que a Venezuela é uma ditadura se intensificou significativamente após a morte de Hugo Chávez, com a chegada de Nicolás Maduro ao poder, que, diferentemente do primeiro, adotou uma postura de viés mais repressivo e menos carismática, junto à população venezuelana. Além disso, as alianças empreendidas por Maduro, para sustentar-se no poder, somente contribuíram para a classificação do regime bolivariano como sendo um regime ditatorial.

Muito embora existam eleições diretas na Venezuela, perseguições a opositores é uma realidade que sempre tem ocorrido nas últimas eleições, muitas vezes praticadas por organizações criminosas apoiadas pelo governo venezuelano, como trouxe a tona, o ex-integrante da inteligência venezuelana, Hugo Carvajal, denunciando diversas situações que associam o governo venezuelano ao narcotráfico.

Apesar de gerar um certo alarde imaginar que um governo estaria se aliando a narcotraficantes, esta não é a primeira vez que tal situação ocorre na América Latina, nem tampouco será a última: em 1989, os Estados Unidos realizou a Operação Justa Causa, no Panamá, que resultou na prisão do presidente panamenho Manuel Noriega, sob a acusação de envolvimento com o narcotráfico.

Como se pode observar, o filme está a se repetir na América Latina e tudo isso já vem sendo bem articulado pelas autoridades internacionais há um certo tempo. Há atualmente, um consenso global, para que deixem de prestar qualquer tipo de apoio ao regime bolivariano, inclusive por parte de históricos aliados do regime.

Muito embora, Nicolás Maduro tenha comemorado as declarações do presidente chinês Xi Jinping, alegando que este “apoia a soberania da Venezuela”, na realidade, tal declaração não foi uma declaração de apoio ao regime de Nicolás Maduro, mas apenas um posicionamento, do governo chinês, de não aprovação de uma intervenção militar no país, uma vez que isto pode, logicamente, afetar interesses geopolítico e econômicos chineses na América do Sul, todavia, de maneira alguma isto deve ser enxergado como um apoio ao regime de Maduro, porque definitivamente não é.

Vladmir Putin, que por sua vez sempre nutriu boas relações com o regime bolivariano, resolveu “abandonar o navio”, chamando o embaixador russo de volta para o país. Muito embora, dias antes, o mesmo embaixador tinha dito que a Rússia está ao lado do povo venezuelano, em momento algum houve qualquer declaração de apoio ao regime de Nicolás Maduro, ao contrário, a postura russa é bastante parecida com a da China, em ser contrária a intervenção militar dos EUA no país, mas, de qualquer maneira, não apresenta qualquer tipo de postura de apoio ao regime.

Neste momento, até mesmo o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, apresentou a proposta de conceder asilo político para Nicolás Maduro, caso este renunciasse à presidência da Venezuela. A postura adotada por Erdogan mostra que a Turquia está adotando uma “terceira posição”, na qual ela tenta conciliar os interesses diplomáticos dos BRICS, que se mostram contrários à intervenção militar na Venezuela, aos interesses diplomáticos da OTAN, que quer o fim do regime bolivariano. De qualquer forma, a Turquia acaba por assumir um inesperado protagonismo, diante de toda esta situação.

O Brasil, por sua vez, era esperado um protagonismo maior, diante de toda esta situação, uma vez que é a potência regional da América do Sul, porém o Presidente Lula possui dificuldades em tomar uma decisão adequada, por conta de seu histórico bastante estreito com o regime bolivariano: uma movimentação inadequada, por parte de Lula, poderia atrair para si alcunhas desconfortáveis, como de traidor ou oportunista, que não seriam nada bem vindas, principalmente no ano que antecede a um pleito eleitoral.

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